Vivemos em uma era em que as redes sociais se tornaram parte essencial do cotidiano. Para muitos jovens, os “likes”, os comentários e as notificações são mais do que simples interações digitais — são formas de validação emocional. Mas até que ponto isso é saudável?
Uma pesquisa recente conduzida pela Universidade de Amsterdã e publicada na revista Science Advances (outubro de 2024) trouxe novas evidências de que os jovens são significativamente mais sensíveis ao feedback social das redes — como curtidas — do que os adultos, e isso tem impactos diretos em seu humor e comportamento.
🔬 O Estudo: Como as “curtidas” afetam o humor dos jovens
A equipe de pesquisadores, liderada por Ana da Silva Pinho, Violeta Céspedes Izquierdo, Björn Lindström e Wouter van den Bos, analisou o comportamento de adolescentes e adultos em uma abordagem de três etapas:
- Análise de dados reais do Instagram — Foram examinadas postagens autênticas para identificar como a quantidade de curtidas influenciava o engajamento e o retorno emocional dos usuários.
- Estudo experimental controlado — Os participantes foram expostos a simulações de redes sociais, nas quais recebiam diferentes quantidades de curtidas. O objetivo era observar as mudanças de humor em tempo real.
- Estudo neurocientífico — Usando técnicas de neuroimagem, foi possível identificar que a sensibilidade ao feedback social estava associada a variações no volume da amígdala cerebral, região ligada às emoções e à recompensa.
O resultado foi claro: os jovens apresentaram uma resposta emocional muito mais intensa ao número de curtidas — tanto positiva (quando recebiam muitas) quanto negativa (quando recebiam poucas).
🧠 A adolescência como período de vulnerabilidade
Segundo o pesquisador Wouter van den Bos, “a adolescência é um período de desenvolvimento em que tanto a sensibilidade à recompensa quanto à rejeição estão particularmente elevadas”.
Isso significa que o cérebro adolescente reage de forma amplificada às interações sociais — algo natural, mas que, nas redes, pode se transformar em uma armadilha emocional.
A busca por validação, representada pelos likes, cria um ciclo viciante de reforço positivo, semelhante ao que ocorre com o uso de substâncias. A cada curtida recebida, o cérebro libera dopamina — o neurotransmissor do prazer —, o que motiva o jovem a continuar postando, rolando o feed e comparando-se com os outros.
Por outro lado, a ausência de curtidas pode gerar sentimentos de rejeição, tristeza e ansiedade, ativando regiões cerebrais relacionadas à dor social.
📉 O paradoxo das redes sociais
As redes sociais, paradoxalmente, promovem tanto o sentimento de pertencimento quanto o de exclusão.
O estudo identificou que:
- Receber curtidas melhora momentaneamente o humor e a sensação de conexão.
- A falta de curtidas diminui a autoestima e aumenta o estresse emocional.
- Esse padrão de altos e baixos pode levar ao uso excessivo e compulsivo das plataformas, especialmente em adolescentes mais sensíveis emocionalmente.
Além disso, os pesquisadores observaram que os jovens abandonam as redes mais rapidamente do que os adultos quando não recebem curtidas, o que indica uma forte dependência emocional do reconhecimento virtual.
💡 O que os especialistas recomendam
Os autores do estudo alertam que as plataformas digitais precisam repensar seus mecanismos de incentivo, pois o atual modelo — baseado em curtidas e recompensas instantâneas — estimula a comparação e o vício social.
Entre as sugestões, estão:
- Reduzir a ênfase em curtidas e priorizar interações mais significativas;
- Educar emocionalmente os jovens para lidar com rejeição, comparação e frustração online;
- Aumentar a transparência das plataformas sobre como seus algoritmos influenciam o comportamento e o bem-estar;
- Promover o uso consciente das redes, especialmente durante a adolescência, fase de maior vulnerabilidade emocional.
❤️ Um olhar humano sobre o problema
Embora o estudo traga uma preocupação legítima, é importante lembrar que as redes sociais também podem ter efeitos positivos — como fomentar conexões, criatividade e pertencimento.
O ponto central está em como elas são utilizadas e quais limites são estabelecidos.
Pais, educadores e profissionais de saúde mental precisam conversar abertamente com os jovens sobre esses riscos, sem demonizar a tecnologia, mas mostrando como ela pode ser usada de forma saudável e equilibrada.
❓ FAQ – Perguntas Frequentes
1. As redes sociais causam depressão?
Não diretamente. Mas o uso excessivo, a comparação constante e a dependência de validação social aumentam o risco de sintomas depressivos e ansiosos.
2. Por que os adolescentes são mais vulneráveis?
Porque o cérebro deles ainda está em desenvolvimento — especialmente nas áreas ligadas à emoção e à tomada de decisão.
3. Apagar curtidas ajuda?
Pode reduzir a pressão por aprovação social, mas não resolve a raiz do problema. É preciso trabalhar também a autoestima e o equilíbrio emocional.
4. O que os pais podem fazer?
Conversar sobre o uso consciente das redes, estabelecer limites de tempo e, principalmente, dar o exemplo.
5. Como as escolas podem ajudar?
Promovendo educação digital e emocional, discutindo temas como comparação social, saúde mental e regulação de emoções.
🌱 Conclusão
Os “likes” das redes sociais podem parecer inofensivos, mas para jovens em formação emocional, eles funcionam como um espelho distorcido do valor pessoal.
A ciência mostra que a busca por curtidas não é apenas uma questão de comportamento, mas também um reflexo do funcionamento do cérebro adolescente, ainda moldável e sensível às recompensas sociais.
Cuidar dessa relação é essencial para garantir um futuro digital mais saudável e equilibrado.
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